domingo, 5 de junho de 2011

Tiroidite de Hashimoto: Diagnóstico e tratamento

image

Technorati Marcas:

por Conceição Lemes

Em fevereiro, durante coletiva de imprensa para anunciar sua aposentadoria do futebol, Ronaldo revelou que tem hipotiroidismo. No final da semana passada, reportagem sórdida da revista Época divulgou que a presidenta Dilma Rousseff também. No caso dela, a origem é a tiroidite de Hashimoto.

Pois cerca de 3 milhões de brasileiros, principalmente mulheres acima de 40 anos, estão na mesma situação que Ronaldo e Dilma. Faça um teste. Pergunte a familiares, amigos, colegas de trabalho se conhecem alguém com hipotiroidismo. Vai se surpreender. Quase certamente encontrará algum caso.

“A incidência de hipotiroidismo vem aumentando no Brasil e uma das razões é a maior quantidade de iodo na dieta dos brasileiros”, informa o endocrinologista João Hamilton Romaldini, professor titular da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade de Campinas. “Outras: métodos diagnósticos mais sensíveis e maior conhecimento da doença pelos médicos.”

O iodo é a matéria-prima básica para a glândula tiroide fabricar hormônios. Existe principalmente em peixes e frutos de mar. Na carência do nutriente, ela não trabalha direito. Em situação extrema, o adulto tem bócio e a criança, deficiência mental.

Não é à toa que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda universalmente adicioná-lo ao sal de cozinha, pois o iodo é raro na natureza. A dose indicada é 20 a 60 miligramas de iodo por quilo de sal.

Porém, iodo demais torna a tiroide suscetível à tiroidite de Hashimoto nas pessoas com predisposição genética. Hashimoto é a principal causa de hipotiroidismo.  Na região Metropolitana de São Paulo, o hipotiroidismo foi encontrado em 8% das mulheres e na cidade do Rio de Janeiro, em 12,3%. Quanto à tiroidite de Hashimoto, afeta mundialmente 2% a 5%  da população feminina.  Quanta maior a faixa etária, maior a ocorrência da doença.

INTERAÇÃO ENTRE PREDISPOSIÇÃO E AMBIENTE

Coloque a mão sob a ponta do queixo. Deslize os dedos até a parte inferior do pescoço. Aí fica a tiroide. Com formato de borboleta e pesando cerca de 20 gramas, é uma das nossas principais glândulas. Ela fabrica os hormônios tiroidianos — substâncias que, via sangue, agem no corpo inteiro, no desenvolvimento e manutenção de todos os órgãos e funções. Por exemplo, ajudam o corpo a usar energia e reter calor; fazem cérebro, coração, músculos e outros órgãos trabalhar devidamente.

Hipotiroidismo significa que os hormônios estão sendo fabricados abaixo do nível considerado normal. Tem vários motivos: má-formação da glândula, radioterapia ou cirurgia no pescoço e uso de certos medicamentos, como amiodarona (para angina e arritmia cardíaca), lítio (antipsicótico), fenilbutazona (antiinflamatório) e sertalina (antidepressivo).

Mas a causa principal em regiões onde há iodo em quantidade suficiente – caso de maior parte do Brasil  – é a tiroidite de Hashimoto, uma doença autoimune.

“A tiroidite de Hashimoto está relacionada à predisposição genética a doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, lúpus eritematoso, vitiligo, psoríase, artrite reumatoide,  com forte influência de fatores ambientais, que aumentam o risco”, explica Romaldini. “Os fatores ambientais mais comuns são radiação, infecções frequentes e estresse, além da elevada ingestão de iodo. A mulher, devido ao estrógeno, o hormônio feminino, também tem maior risco.”

Em outras palavras: a tiroidite de Hashimoto resulta da interação entre predisposição genética e fatores ambientais desencadeantes. O sistema imunológico não reconhece a tiroide como parte do corpo e passa a produzir anticorpos contra a glândula, inflamando-a ou destruindo-a progressivamente.

O processo é irreversível. O tratamento consiste em tomar diariamente, e para o restante da vida, comprimidos de levotiroxina (há várias marcas comercializadas no Brasil). É hormônio T4 sintético. Não cura o hipotiroidismo, apenas substitui o T4 (ou tiroxina, principal hormônio fabricado pela tiroide) que a glândula doente não produz em quantidade suficiente. A melhora dos sintomas é lenta, podendo levar meses se eles forem intensos.

SINAIS E SINTOMAS DE HIPOTIROIDISMO

Independentemente da causa, a redução dos hormônios tiroidianos no sangue leva aos poucos o organismo inteiro a “andar” em marcha lenta.

Os sintomas (é o que você sente) e sinais (é o que você e o médico veem) comuns :

* Cansaço, desânimo, com fraqueza, perda de energia.

* Prisão de ventre.

* Pele seca.

* Ganho de peso ou dificuldade para perdê-lo.

“O aumento de peso em função do hipotiroidismo geralmente não é superior a 10% do peso”, afirma Romaldini. “Ele se deve ao acúmulo de líquidos [água] nos espaços entre os tecidos do corpo. É diferente da obesidade, cujo ganho de peso é decorrente do aumento de gordura.”

Outros sinais e sintomas do hipotiroidismo:

* Sensação de frio quando as outras pessoas sentem calor.

* Voz rouca.

* Diminuição da audição.

* Dores articulares (nas juntas).

*Alteração na menstruação, principalmente com aumento do

sangramento.

* Infertilidade.

* Galactorreia (produção de leite fora do período pós-parto ou de lactação. Pode ocorrer no sexo masculino).

* Perda de libido.

* Lerdeza para reagir às situações do cotidiano.

* Raciocínio moroso, concentração difícil e memória ruim.

* Sonolência durante o dia.

* Pálpebras e rosto inchados ao amanhecer.

* Cabelos ressecados, quebradiços, que caem mais do que o habitual.

* Unhas quebradiças.

* Irritação.

* Surgimento ou agravamento da depressão.

* Aumento da taxa de colesterol.

Hoje, raramente, os médicos atendem hipotiroideo com tudo isso junto. É o hipotiroidismo clássico, ou manifesto. Usualmente, o diagnóstico é feito numa fase mais precoce, e o paciente apresenta apenas alguns dos sintomas acima, aliás, comuns a diversas condições, como anemia, depressão, stress e menopausa.

“Em geral, a pessoa não nota o início do hipotiroidismo, os sinais e sintomas são brandos”, avisa Romaldini. “Por meses e muitas vezes anos não tem sintoma algum.” É o hipotiroidismo subclínico, cuja única alteração é o aumento no sangue do hormônio estimulante da tiroide (TSH).

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE HASHIMOTO

– E como saber se a pessoa tem hipotiroidismo?

– E se ele é causado por tiroidite de Hashimoto?

Bem, as sociedades de ginecologia e endocrinologia preconizam a dosagem de TSH para mulheres após os 40 anos. Porém, se sentir cansaço, desânimo ou depressão que não consegue explicar direito, consulte o seu médico. Pode ser que não seja stress ou excesso de trabalho, mas hipotiroidismo.

O diagnóstico de hipotiroidismo é feito através de dosagens hormonais. Na maioria das vezes basta o TSH. É o primeiro a detectar qualquer alteração na tiroide.  O normal é ter de 0,3 a 4,5 miliunidades de TSH por litro de sangue.

Nos resultados alterados, devem ser feitos mais dois testes:

1) T4 livre, particularmente útil no diagnóstico do hipotiroidismo subclínico. É aquele que ainda não dá sinais nem sintomas. O T4 livre normal combinado a TSH pouco elevado indica disfunção mínima da tiroide.

2) Anticorpos antitiroide, para identificar a causa. Resultado positivo é forte indício de tiroidite de Hashimoto.

“TSH Acima de 10, considera-se hipotiroidismo”, observa Romaldini. “Deve ser sempre tratado. A terapia é tomar levotiroxina diariamente pelo restante da vida.”

De 4,5 a 10 miliunidades é a faixa do hipotiroidismo subclínico. Alguns médicos já tratam. Mas o professor Romaldini acha que só deve ser tratado se o paciente tem queixa importante ou fator de risco associado, como aumento do colesterol total e da fração LDL (o ‘mau’ colesterol), angina, doença do pânico ou depressão que não melhora com antidepressivos, diminuição de memória e de concentração.

“O hipotiroidismo está associado a aumento de colesterol, favorecendo aterosclerose e infarto do miocárdio”, justifica Romaldini. “Também pode alterar o humor, contribuindo para a depressão.”

– E se a pessoa tiver também tiroidite de Hashimoto, como fica o tratamento?

O tratamento não muda. O que altera é o prognóstico. Portanto, a forma como se vê a doença naquele paciente que é positivo para anticorpos antitiroide. O risco de evoluir para hipotiroidismo é sete vezes maior.

“A cada seis meses, o paciente passa por nova avaliação”, atenta o doutor Romaldini. “Se alterar o TSH ou o quadro clínico, inicia-se o tratamento.”

Mas atenção. Tem muita gente sendo tratada desnecessariamente de hipotiroidismo no Brasil.

Um comentário:

Sergio Zabotto disse...

Sutil, 10 esse post.....já que sofro dessa "coisa"..ehhehee..Mas muito interessante....parabéns Um grande abraço....